Gestação, maternidade e filhos: como Yoga ajuda?


Mães, filhos e Yoga. Este foi o tema da entrevista que o CREA-BA me solicitou há uns dias atrás.

Como vocês sabem, hoje eu sou mãe e avó. Mas antes disso, eu fui apenas mãe e carregava a Giovana ainda bebê para a Universidade, para as aulas de língua estrangeira, para as aulas de Yoga e tudo mais.

Minha gravidez foi tranquila (tirando os quase 4 meses de muito enjôo) e meu parto foi quase todo como eu desejava: foi pélvico, entretanto sofri violência obstétrica (episiotomia).

Aquela paixão, né! Toda mãe se apaixona pelo bebê. A ocitocina vai lá nas alturas!

Bom, muitas grávidas fizeram aulas de Yoga comigo desde o princípio e isso me impulsionou sempre a estudar mais sobre gestar, maternar, cuidar e ser cuidada. Foi assim que, inicialmente eu estudei o Blog da Melânia Amorim, depois fiz o curso de DOULA e atualmente participo dos SIAPARTO (Simpósio Internacional de Assistência ao Parto).

Nunca atuei como Doula, mas me via na situação de que era preciso aprender mais para orientar e atender melhor com Yoga e Ayurveda. E até hoje me vejo neste lugar.

Segue abaixo a entrevista que está no card acima.

Uma boa leitura para você e feliz dia!


ENTREVISTA:

1 – Primeiro eu queria saber um pouco sobre a sua trajetória / experiência na Yoga, e com esse tipo de público em específico.

Me chamo Patricia Sandes e comecei a dar aulas de Yoga em 2006, quando vim morar em Salvador-Ba. Eu sou mãe e, nesta época, a minha filha era pequena. Praticávamos juntas e eu também costumava levá-la comigo para alguns locais onde eu dava aulas de Yoga. Neste contexto, começaram a surgir gestantes, mães e filhos bem como famílias inteiras querendo praticar juntas. Para aprofundar o conhecimento e atender melhor, fiz um curso de Doula e foquei em Ayurveda para a saúde de grávidas, mães e crianças (eu já atuava como Terapeuta Ayurveda também).


2 – Quero saber também sobre as técnicas diferentes para fazer as crianças participarem. Como chamar a atenção dos pequenos e fazer tudo parecer uma brincadeira? Existem crianças agitadas demais para praticar?

Sabe, eu sou licenciada em ciências e biologia, atuei muitos anos como professora, em pesquisa socioantropológica e percebo muito claramente que nós primeiro precisamos ouvir as crianças. O que elas têm a nos contar, como elas se expressam, abaixar e olhar nos olhos delas.
Muito antes da técnica em si, vem uma relação de respeito e afeto genuíno, de interesse pela vida delas. A agitação excessiva da criança muitas vezes é a expressão da falta de atenção afetiva que elas recebem. Eu diria que, no geral, não existe criança agitada demais.
Deveríamos nos perguntar: o que está acontecendo que essa criança está tão agitada? Quando nós adultos demonstramos interesse real, as crianças amam o Yoga LÚDICO.
Enfatizo a ludicidade porque, quanto mais novas as crianças são, mais lúdica as aulas também devem ser. Algumas vezes com desenhos, outras não, sempre contando histórias, tratando os exercícios com os nomes dos animais e o principal: usar a linguagem das crianças em questão. E para isso é necessária muita observação por parte da professora de Yoga.
A própria criança vai expressar a aula de Yoga que ela tem condição de fazer naquele momento.


3 – Quais são benefícios especificamente para a criança? Que diferenças você já notou no comportamento delas durante a sessão? Algum comentário comum das mães sobre os efeitos no geral?

As crianças desenvolvem uma capacidade de se dispersarem menos durantes as atividades do dia a dia, basta que algum adulto peça para que ela faça uma respiração mais profunda, por exemplo. Também ajuda muito a tranquilizar e preparar para o sono do dia e/ou da noite, basta que o adulto acompanhe e direcione.
Eu dou aulas para crianças em um projeto social dentro de uma creche pública e as professoras me contam que as crianças ficam muito menos agitadas na sala de aula e que, em casa, ensinam aos familiares. As mães também têm dado um feedback positivo em relação a isso.


4 – E para as mães? Quais são os benefícios mais comuns?

As mães têm uma vida muito sobrecarregada com responsabilidades que vão se acumulando e tudo fica muito mais denso no puerpério que é um período pós-parto. Essa fase de puerpério pode durar mais de 1 ano e junto com ele pode existir a depressão pós-parto que normalmente não é rastreada. Soma-se a este quadro a mãe solo. E essa mãe exausta que não dorme, que está preocupada, ela não consegue parar para pensar em si. Ela está vivendo no automático. Nesta fase, a mãe só consegue pensar em autocuidado se ela tiver apoio social (familiar, de amigos) ou se ela tiver se estruturado anteriormente no sentido de ser a protagonista desde a gestação.
Por este motivo eu volto lá no início da gravidez: quem vai parir deveria começar a praticar Yoga já pois, em todas as fases da gestação e no puerpério, haverá melhora no sono, no equilíbrio, nas dores do corpo, na redescoberta deste novo corpo, na chegada do bebê, na tranquilidade durante tomadas de decisões que serão necessárias, em uma mente mais focada e menos estressada.


5 – E o principal: sobre a relação mãe-filho, qual é o potencial do Yoga para aprofundar essa conexão?

Yoga é conexão. Quem dá aula de Yoga vai trazer exercícios e meditações que promovam a conexão consigo e daí com a filha(o). Tudo é direcionado para ampliar essa percepção e amparar essa nova mãe que nasce após parir. Yoga que não conecta simplesmente não é Yoga.


6 – Você tem alguma história engraçada / inspiradora sobre mãe e filho praticando Yoga?

Uma mãe entrou com seu filho de 3 anos na aula de Yoga on-line e então a criança viu as colegas da mãe e a professora (eu). Simplesmente começou a conversar com todo mundo e disse que ia fazer a “planta” e que ELE era o professor de Yoga. Claro que todas as pessoas riram muito. Foi uma grande descontração antes de começarmos a aula em si.

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