Aceito e entrego

Nas aulas de yoga, costumo me referir enfaticamente à respiração e seus detalhes ao mesmo tempo em que trago a complexidade dos pranayamas e alguns exercícios de limpeza. É largamente difundido que quanto mais trabalhamos a capacidade respiratória, mais equilibramos os Sistema Nervoso Simpático, Sistema Nervoso Parassimpático e Sistema Entérico. Isso significa um corpo cujo sistema imune funciona muito bem já que as respostas ao estresse são equilibradas com a resposta ao relaxamento (só essa palavra daria um textão!). Também é sabido que a movimentação diafragmática move as fáscias desde a plantar (sola dos pés) até a mandíbula.


O que trago aqui é o que levo para as aulas práticas de yoga, pois até agora eu apenas discorri sobre teoria. Esse preenchimento dos pulmões eu associo a nossa capacidade de receber a vida, os presentes da vida, prasaada em sânscrito. Só que receber vai um pouco além, pois também implica em permitir que as nossas vontades não cumpridas pela vida sejam aceitas por nós. Eis o pulo do gato: as adversidades que, no fundo, somente são adversidades quando nós não aceitamos essa condição como um presente, uma oportunidade, um convite à reflexão. 
Quando os pulmões são esvaziados, trago o entendimento da entrega, naturalmente associada ao desapego. Só que desapego e entrega brotam da prática individual, do quanto cada um realmente entende e assimila (exercita) os conceitos de yoga. Ler, falar e escrever é muito diferente de colocar em prática, no cotidiano. Sendo assim, desapego é uma permissão gradual que damos a nós mesmos para que as questões possam simplesmente ir, seguir o fluxo, assentar-se. Como eu disse: exige muito estudo e um certo esforço, dedicação. Desapego está também associado aos excessos e pode ser, inclusive, excesso de respiração. Todos os excessos levam ao apego, inclusive excesso de viagens, comidas, bebidas, pessoas, passeios. Melhor: os excessos já são o apego.
Então, expira e libera, deixa ir! Inspira e aceita o que tem por vir!
Pensa naquela música "É preciso saber viver".

Harih Om

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